O dinheiro
e o que eu tenho
devem ser
uma expressão
de amor a Deus
e ao próximo











A má localização
do homem contra
a riqueza e o mau uso do dinheiro,
levaram-nos
para criar uma civilização artificial do dinheiro

Se o homem vive para si mesmo no uso de seus bens, vai gerar uma civilização de morte e desumanização


Se formos fiéis
na evangelização dos nossos bens
e nas contribuições para o Capital
do Senhor,
receberemos a graça de gestar uma nova civilização de nossa participação comunitária











Peçamos ao Senhor
gerar uma nova evangelização
a partir do testemunho econômico
dos discípulos
em comunidade

Cristo Vive Aleluia! N° 129
 

Identidade econômica do discípulo de Jesus

O dinheiro

Uma das experiências básicas e cotidianas do homem é a do dinheiro. Levo para viajar? Tenho dinheiro no bolso ou na carteira? Me atinge o salário até fim de mês? Posso poupar? Tenho para sair de férias? Com que cubro uma emergência ou doença?

Acho que o homem é necessariamente relacionado ao dinheiro. Não pode fazer sem ele. Aquele que não o tem, socialmente é um pobre ou vive na miséria.

O dinheiro é algo que representa um valor. O dinheiro vale em alguma medida. Ter dinheiro serve, dá-me valor; com ele posso comprar o que preciso. O dinheiro é também um meio de intercâmbio entre os homens. E conseqüentemente, gera poder. Quem mais tem, aparentemente, mais pode. Daí a tentação do dinheiro: crer que sou na medida que tenho porque tendo posso.

Que diz Deus do dinheiro? Deus não condena ao dinheiro senão ao mau uso dele. O dinheiro é um meio para viver e conviver. Não é algo absoluto, não devemos viver para ele. A busca da riqueza é dar-lhe culto ao dinheiro e gera avareza e usura. «A avareza, que é uma idolatria» (Col 3:5). Aos olhos de Deus o dinheiro exalta ou rebaixa ao homem. «Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas» (Lc 12:15).

Desde que o homem é a imagem e semelhança de Deus, o dinheiro deve ser uma expressão de amor. O ter é para dar, para distribuir. Não é uma forma de opressão pessoal e social, senão de libertação.

Com o dinheiro, a pessoa pode ter três atitudes. Dito de outra maneira, as finanças pessoais podem ser de três formas:

• Uma economia pessoal liberal: Com meu dinheiro faço o que quero. Pertence-me e o uso como eu penso. É a propriedade privada, sem dimensão social. É o individualismo econômico a nível pessoal. Em Ocidente ao menos, é o uso mais comum de dinheiro. Às vezes, um é ateu no uso dos bens.

• Uma economia pessoal materialista: Com o dinheiro me dou os gostos que quero; vivo bem, cômodo, que nada me falte. Vivo do ter sem dimensão de transcendência nem eternidade. Os demais não me interessam. Os bens estão ao serviço do bem-estar e o consumo.

• Uma economia pessoal evangélica: O dinheiro e o que tenho devem ser uma expressão do amor a Deus e ao próximo. «Vendei o que possuís e dai esmolas —diz Jesus—. Fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói. Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração» (Lc 12:33-34). O dinheiro está ligado à vida do espírito e seu uso está submetido ao discernimento. O que tenho é para compartilhá-lo. Amar ao próximo e ao Corpo de Jesus é compartilhar os bens (cf. At 4:34-35). Isto decorre da experiência de Deus e de seu Amor no Espírito Santo derramado na comunidade cristã.

A má localização do homem para à riqueza e o mau uso do dinheiro levou-nos a criar uma civilização artificial de dinheiro: a fazer da riqueza econômica, a riqueza do homem.

Esta é realmente uma tentação proposta social e culturalmente ao homem: você precisa ter para ser; a vida é concorrência com o outro e explodir ao outro; não me interessa senão na medida em que posso servir-me dele. Ele tem sido chamado sistema capitalista.

A vida do homem é a oculta idolatria do dinheiro. O que tem é como um deus: tudo o pode. O segredo da riqueza é a acumulação: quanto mais tenho, mais quero ter e menos quero dar. É o pecado da cobiça: «a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro» (1 Tim 6:10).

Da acumulação nasce o capital como poder econômico e social. O capital engendra, numa primeira etapa, uma civilização individualista da concorrência chamada economia liberal. Numa segunda etapa, a economia liberal se transforma em economia materialista de produção e consumo. O homem é como um animal que trabalha para produzir e comer.

O instrumento desta civilização intransponível e desumanizante, em nossa hora atual, é constituído pelas empresas internacionais e os mercados. Hoje, viver a idolatria do dinheiro e a onipotência da riqueza acumulada, dos megacapitales, é estar submetidos à tirania dos mercados. É a tirania do ter por ter, que engendra a frustração trabalhista da desocupação e a miséria social em milhões de homens e nações. Ao mercado não lhe interessa o homem senão o ganho.

A informação pública nos dá estes dados: do Relatório anual do Banco Mundial, o 20% da população mundial vive com menos de um dólar por dia, e quase a metade do mundo (2.800 milhões de pessoas) vive com menos de dois dólares por dia.

Conseqüência disto: dez milhões de meninos pobres, menores de cinco anos, morreram em 1999, a maioria por doenças evitáveis. E mais de 113 milhões de meninos pobres não assistem à escola (cf. Diario Clarín, 30/4/2001, Sec. Economia, p. 9 y 13/9/2000, p. 30).

Sobre nossa situação histórica, Jesus fez um ensino divino e fundamental: o homem não pode servir a dois senhores: a Deus e ao dinheiro (cf. Mt 6:24).

Com isto está querendo dizer que o dinheiro tem o poder de submeter a vida do homem. Pode viver para ganhar, ter e acumular riqueza. O ser humano pode fazer-se um escravo do dinheiro e fazer da vida, um negócio. Pode vender a riqueza eterna de sua vida que é o Amor de Deus, ao poder, a segurança, o gozar e a aparência que pode dar o dinheiro. Essa é a tragédia do rico glutão na parábola do Evangelho (cf. Lc 16:19-31).

Jesus faz gráfica essa situação de culto ao dinheiro com um ensino que vale a pena recordar: é a parábola da insensatez lucrativa tão própria da economia chamada "neoliberal" de nossos dias. «E propôs-lhe esta parábola: Havia um homem rico cujos campos produziam muito. E ele refletia consigo: Que farei? Porque não tenho onde recolher a minha colheita. Disse então ele: Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros e construirei maiores; neles recolherei toda a minha colheita e os meus bens. E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porém, lhe disse: Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que ajuntaste, de quem serão? Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus» (Lc 12:16-21).

A humanidade historicamente deve aprender que, se o homem vive para si mesmo no uso de seus bens, vai gerar uma civilização de morte e desumanização. O destino da riqueza vazia de Deus é um destino de condenção aos olhos do Deus revelado: uma civilização de aparência tecnológica, uma vida social mesquinha em alguns e miserável para muitos, e uma eternidade vazia de amor e de vida.

E em isto os cristãos não devemos desculpar-nos. Devemos fazer uma séria revisão de nossa fé se queremos os frutos de uma nova evangelização e de uma civilização também nova.

A fé convencional oferece uma ambivalência de vida frente ao dinheiro e ao uso dos bens. Não se é nem frio nem quente. «Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Pois dizes: Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito, e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu» (Ap 3:15-17).

No uso habitual dos bens se expressa a cobiça de dar o menos possível e a isso as vezes se lhe chama "esmola"; quando mais, dar apenas o suficiente para cumprir com a consciência. O cristão comum se conformou com dar "esmolas" que não evangelizam nem civilizam. Só servem para não se sentir culpado frente ao próximo ou justificar-se no templo.

O cristão evangelizado descobre que os bens, como a vida, devem estar ligados a Deus como Senhor deles e ao homem como administrador fiel (cf. Mt 25:14-30). Converter-se é converter também o sentido dos bens na vida do homem. Se a pessoa serve a Deus, descobrirá o valor da pobreza evangélica e viverá o amor do compartilhar. A partir daqui sim se pode projetar uma Civilização do Amor, com projetos de uma economia nova nascida do Amor e do Espírito.

Uma economia dos discipulos

O discípulo de Jesus é o que o segue, entregando-lhe a vida e os bens. Isto Jesus o ensinou e repetiu com clareza (cf. Lc 14:25-35). Para Deus, amar é estar livre, isto é, desprendido de si mesmo e dos bens. As vezes, o não querer entregar os bens que tenho pode mostrar-me que, em realidade, também não lhe entreguei a vida senão só algum aspecto dela. É o caso do jovem rico do Evangelho… (cf. Mt 19:16-22).

Ter uma fé discipular é fazer a Jesus Senhor da vida e das coisas próprias. É viver sob a Providência de Deus (cf. Mt 6:25-34), o ensino de Jesus e a vida do Espírito Santo. É para gerir os bens próprios a partir dos critérios do Senhor.

Para nós em O Movimento da Palavra de Deus, a entrega dos bens ao Senhorio de Jesus coincide com a graça do primeiro Cursinho de Evangelização (1976). De ali surgiu nossa identidade como movimento e o Capital do Senhor: é uma expressão de nosso carisma, e lida para gerir as contribuições dos membros da Obra.

Poderíamos lembrar muitas passagens da Palavra de Deus sobre os bens. Mencionemos, além do jovem rico, a Zaqueu, a Mateus, e já no tempo da Igreja a Bernabé (cf. At 4:36-37) e o caso trágico de Ananias e Safira (cf. At 5:1-11).

O discípulo de Jesus tem princípios e critérios econômicos próprios do Reino de Deus. Esse é nosso caso. Mencionaremos três princípios da economia dos discipulos:

Princípio da necessidade

Há que gastar de acordo ao necessário e evitar o supérfluo. Frente ao dinheiro são necessários a oração e o discernimento. Há que se cuidar da própria natureza que procura criar-se "necessidades supérfluas".

O princípio de necessidade está ligado com a Providência de Deus. «Buscai antes o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo». E adiciona Jesus: «Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12:30-31).

Princípio da pertença pastoral

Deus cria e adota um Povo seu de entre toda a humanidade. Este Povo faz um signo econômico da sua pertença ao Povo de discipulos de Deus: o dízimo, a contribuição, a oferenda. «Glorifique o Senhor com generosidade, e não seja mesquinho nos primeiros frutos que você oferece. Quando oferecer alguma coisa, esteja de rosto alegre, e consagre o dízimo com boa vontade. Ofereça ao Altíssimo conforme o dom que ele fez a você; dê com generosidade, segundo suas possibilidades. Porque o Senhor retribui a oferta e ele, em troca, lhe dará sete vezes mais» (Sir 35:7-10).

O Povo de discipulos (cf. Mt 28:19-20) é o Povo pastoral com um laicado surgido de uma nova evangelização. Se se organiza comunitariamente e é fiel ao ensino do Evangelho, pode gerar uma nova Civilização no mundo.

Princípio da solidariedade

Há que ter para ajudar. É a ajuda ao Jesus precisado na urgência do próximo. A miséria social é parte do pecado do mundo e devemos ajudar integralmente ao irmão que está nessa situação: «Seja como um pai para os órfãos… você será como um filho do Altíssimo» (Sir 4:10).

As comunidades, com seu estilo de vida na aliança do mandamento de Jesus, são uma prevenção da doença social e o desenvolvimento de um tecido social são.

O novo tecido da Civilização do Amor

Esta segunda parte da palestra nos propõe duas perguntas de maturidade eclesial: Valorizamos o critério da pobreza evangélica em nossa vida pessoal e familiar? Estamos comprometidos pastoralmente com o Capital do Senhor ou temos restos de uma economia pessoal liberal e discutimos com a graça de Deus em nossa carisma?

«Convém lembrar: aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará. Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria» (2 Cor 9:6-7).

Se somos fiéis no pouco, se nos entregará muito. Se somos fiéis na evangelização de nossos bens e nas contribuições ao Capital do Senhor, se nos entregará a graça de gestar uma nova civilização desde nossa participação comunitária.

Aquele que dá suas riquezas «receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna» (Mt 19:29b).

O Espírito Santo é um Espírito Criador e Civilizatório. Devemos pedir ao Pai que apresse a hora de um derramamento universal do Espírito Santo. Ele é o Fogo que veio trazer Jesus para que a Terra arda no amor de uma Fraternidade Universal.

Enquanto isso, nós devemos crescer na santidade do amor e amadurecer em nossa pertença eclesial ao Povo de Deus. Ir vivendo os passos de graça que cada ano nos presenteia o Senhor. No ano 2001, a maturidade eclesial de nosso discipulado nas Comunidades de Vida. E também o desenvolvimento da Diaconia Familiar nos retiros de noivos e casais e outras realidades pastorais ao respecto.

Neste tempo é bom lembrar que nas Convivências do ano 1987, o Senhor nos deu a graça de ter os "Princípios de uma Economia do Amor" (cf. Poniendo en Común N° 29).

A eles podemos adicionar os três princípios que enunciamos recém e os outros dois que daremos agora, porque o Senhor prepara os tempos novos para que tenha sobre a Terra uma civilização própria e digna dos filhos de Deus.

Princípio da Nova Civilização

É organizar a economia desde o amor e como serviço ao homem. Esse é o sentido da Doutrina Social da Igreja e de tantos documentos dos Papas recentes.

Se disse —e o estamos experimentando— que "o dinheiro é um bom servente mas um mau mestre". Porque o dinheiro, feito mestre do homem, alimenta-se do ganho e não do serviço ao bem comum.

O princípio da Nova Civilização diz-nos que o ter é para produzir, desenvolver-se e distribuir. A inteligência e o coração devem estar postos ao serviço de projetos civilizatórios novos.

Princípio da Vida eterna

O dinheiro vale na medida em que está ao serviço do bem e do amor ao próximo. De outro modo é motivo de purgatório ou de condenção (cf. Lc 12:15). O dinheiro é um chamado a testemunhar que a única riqueza do homem é o amor de Deus. Esse é o ensino da vida de Jesus que sendo rico se fez pobre para salvar-nos (cf. 2 Cor 8:9) de nossas alienações. E o dinheiro é uma delas.

Desta vida só nos levaremos o amor com que tenhamos vivido e não os bens e riquezas que tenhamos tido. O que não faz sentido de eternidade, não tem verdadeiro sentido de realização do homem. Por isso a Palavra nos ensina a fazer-nos um tesouro no céu. «Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói» (Lc 12:33).

Que ao final desta trabalhosa vida, o Senhor não nos diga:

Tiveste mas não amaste.
Procuraste tua segurança e não o bem de teu próximo.
Disseste crer e não fizeste da comunidade uma imagem evangélica de Igreja e de nova civilização.

Mais bem do que possa dizer-nos:

«Servo bom e fiel, já que foste fiel na administração do pouco, vem regozijar-te eternamente com teu Senhor» (cf. Mt 25:21). Amen.

Peçamos ao Senhor, gerar uma nova evangelização desde o testemunho econômico e discipular da comunidade. Leste é um tempo para rever a evangelização de nossos bens e a participação no Capital do Senhor.

Como solidariedade é bom que cada Centro Pastoral da Obra tenha a Despensa e o Roupeiro com que se ajude à emergência dos precisados no Movimento ou fora dele. Devemos fazer nosso, como experiência de vida, o espírito da coleta de Jerusalém que são Paulo narra e descreve em sua segunda carta aos coríntios (cap. 8 e 9).

Como membros de uma Comunidade de Vida do Movimento, devemos fazer uma autêntica administração discipular de nosso dinheiro e nossas contribuições. Não façamos como Ananías e nos guardemos parte do dinheiro que devemos pôr a disposição pastoral dos apóstolos (cf. At 5:1-3). Com nossas razões não vamos convencer ao Espírito Santo; vamo-nos a enganar a nós mesmos e vamos enfraquecer o Corpo. Trabalhemos com uma responsabilidade discipular de comunhão adulta, nesta realidade.

Se queremos um Mundo Novo, temos de desenvolver uma economia pastoral nos Carismas do Povo de Deus; e uma economia do amor para projetos de uma civilização verdadeiramente humana.

O P. Ricardo, fundador do MPD

P. Ricardo
Cristo Vive Aleluia!
Nº 129, p. 12 (1998) e
Nº 130, p. 6 (2001)

© O Movimento da Palavra de Deus, uma comunidade pastoral e discipular católica. Este documento foi inicialmente publicado por sua Editora da Palavra de Deus e pode reproduzir-se a condição de mencionar sua procedência.