Critérios
para renovar
as comunidades eclesiais
e estruturas pastorais
da diocese
e paróquia, pela conversão pastoral,
à luz do Documento
de Aparecida














Vislumbram-se algumas luzes
de esperança
que expressam
um processo de renovação
em movimento;
mas também persistem sombras que dificultam a renovação pastoral e desafios que exigem respostas audazes

A conversão pastoral
é um pré-requisito
para a Missão Continental



















Assegurar
a experiência comunitária
de cada batizado.
Resgatar e impulsionar
com grande força
e criatividade
a criação
de pequenas comunidades eclesiais,
que sejam autênticos espaços da experiência
de Deus,
de discipulado e de missionariedade

Critérios para a conversão pastoral e a renovação
 missionária da diocese e da paróquia

INTRODUÇÃO

Este documento é o resultado do encontro de bispos e padres responsáveis de promover a missão continental e a renovação da paróquia das Conferências Episcopais de América Latina e no Caribe, realizado de 3 a 6 de maio de 2010 em Lima, Peru.

O encontro foi promovido e organizado pela seção Conferências Episcopais e Igrejas Particulares e a seção Paróquias, Pequenas Comunidades, CEBs do Departamento de Comunhão Eclesial e Diálogo do Conselho Episcopal da América Latina (CELAM). Este encontro está localizado em continuidade com outros realizados sobre o tema "Paróquia, CEBs e Pequenas Comunidades" em Montevidéu, no Uruguai, em outubro de 2007, e no México, de 22 a 24 de abril de 2008. A reunião teve como propósito estimular a reflexão e ação dos diversos agentes de pastoral, especialmente os senhores bispos e presbíteros, em pró da conversão pastoral e a renovação missionária de nossas comunidades eclesiais.

O encontro se desenvolveu a partir dos seguintes objetivos:

Objetivo geral:

Descobrir e propor critérios para renovar as comunidades eclesiais e as estruturas pastorais da diocese e da paróquia, a partir da conversão pastoral, à luz do Documento de Aparecida, a fim de ser uma Igreja em permanente estado de missão.

Objetivos específicos:

• VER a situação atual —luzes e sombras— das dioceses e paróquias.

• ILUMINAR o processo de renovação e conversão pastoral e estrutural em face do compromisso da Missão Continental permanente.

• ELABORAR critérios pastorais operativos para permitir às Conferências Episcopais e Igrejas particulares revitalizar e fortalecer os processos de renovação das estruturas pastorais e fazer realidade a Missão Continental permanente.

Para análise da situação se realizou uma labor prévia de reflexão por parte dos participantes, a partir de algumas claves: avanços, conflitos, necessidades, expectativas, valores, pesquisas, tendências, desafios e perspectivas de ação em pró da renovação missionária da diocese e a paróquia.

O documento consta de três partes principais, o que corresponde à metodologia seguida no Encontro (ver-julgar-agir). Cada uma delas recolhe as contribuições mais relevantes. Também está incluída uma "Proposta metodológica" para aprofundar sobre o assunto e umas "Recomendações" para diversas instâncias eclesiais para a posta em prática deste documento.

I. SINAIS DE RENOVAÇÃO

A três anos de celebrar a V Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano, em Aparecida, vislumbram-se algumas luzes de esperança que expressam um processo de renovação em movimento; mas também persistem sombras que dificultam a renovação pastoral e desafios que exigem respostas audazes, ágeis, e integradas num planejamento e programação diocesana e paroquial.

Luzes

Aparecida pediu que a «decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais das dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e qualquer instituição da Igreja» (DA 365). Em resposta a esse chamado, muitas dioceses e paróquias elaboraram ou atualizaram seus planos pastorais ressaltando, entre outros, os seguintes aspectos:

— centralidade da Palavra de Deus;
— prioridade do Kerigma;
— catequese sistemática;
— evangelização processual;
— promoção e formação de agentes;
— busca e acolhida dos mais afastados;
— formação de CEBs e pequenas comunidades;
— planejamento pastoral;
— criação de centros de formação;
— setorização;
— evangelização a partir da religiosidade popular;
— impulso à espiritualidade e ao testemunho;
— maior participação dos leigos na Igreja (em conselhos e equipes de trabalho, ministérios, etc.) e na sociedade.

Se percebem também mudanças de atitudes nos ministros ordenados (maior proximidade entre os presbíteros e corresponsabilidade pastoral ante os desafios) e um crescente despertar do espírito missionário, em geral.

Sombras

— A resistência à mudança de muitos sacerdotes, com uma mentalidade fechada e clericalista;
— a lentidão no impulsionar processos de formação profunda dos leigos;
— persistência de Movimentos fechados em si mesmos;
— prevalência da instituição sobre a pessoa;
— falta de critérios para a evangelização do mundo urbano;
— sobrecarrega de trabalho devida em boa parte aos poucos agentes de pastoral
— falta de uma maior reflexão teológica e uma espiritualidade missionária mais profunda, entre outras.

Desafios

Os desafios seguem sendo múltiplos:

— Recriar e redefinir a identidade de cada Igreja particular a partir dos novos contextos e, dentro dela, renovar a identidade
   do sacerdote, do consagrado, do leigo;
— lograr uma profunda espiritualidade, que anime todo o processo;
— descobrir e atender os "novos areópagos";
— superar as visões excludentes e os enfrentamentos entre grupos eclesiais para uma mesma proposta metodológica de missão;
— avaliar, promover, apoiar e projetar a missão dos leigos no mundo;
— encontrar novos caminhos para a transmissão da fé às novas gerações;
— animar uma adequada pastoral presbiteral, com mecanismos eficazes para acompanhar aos sacerdotes, especialmente nos
   primeiros anos;
— estabelecer processos formativos mais adequados nos seminários e casas de formação, numa perspectiva do discípulo missionário;
— descobrir e viver a profunda inter-relação entre comunhão e missão.

II. O DESAFIO DA CONVERSÃO PASTORAL

A conversão pastoral é um tema transversal no Documento Conclusivo de Aparecida. É um pré-requisito para a Missão Continental. Aqui são sugeridos princípios teo- lógicos, sobretudo eclesiológicos, e critérios evangeliza- dores, que podem alumiar e orientar prioritariamente a renovação missionária das comunidades eclesiais, em particular as dioceses e paróquias, para caminhar em um estado de missão permanente na América Latina e Caribe.

Princípios teológicos

1. A Trindade. A Igreja, convocada e formada pela Santíssima Trindade, é por natureza missionária. O mistério da Trindade, na comunhão e a missão das divinas pessoas, é a fonte, o modelo e o fim da renovação missionária da Igreja.

2. Cristo e seu Reino. Cristo é o fundamento absoluto, modelo principal e conteúdo central da missão. A Igreja surge da missão de Jesús e foi enviada por ele a evangelizar. Ela:

— comunica a Vida em Cristo para que todos os homens sejam congregados numa única Família dos filhos de Deus,
— prorroga o dinamismo do mistério da Encarnação,
— promove o crescimento o Reino de Deus, para que todos os povos tenham um processo de conversão permanente rumo
   a santidade do amor, assumindo com fé firme a Cruz, a alegria da Páscoa e a força do Espírito.

3. O Espírito Santo. O Espírito Santo é o agente principal da nova evangelização. O Espírito impulsiona à Igreja missionária a um novo e permanente Pentecostes.

4. A Igreja. A Igreja é o Povo de Deus, que vive a comunhão missionária,

— como dom e tarefa enquanto participação na comunhão trinitaria,
— como sacramento da presença salvífica e amorosa do Pai em Cristo,
— como fraternidade no Espírito que acontece nas Igrejas particulares.

5. A Igreja particular. A Igreja particular, é totalmente Igreja, porém não é toda a Igreja. É:

— o lugar privilegiado da formação e da missão para a comunhão,
— o centro vital da nova evangelização,
— o sujeito da pastoral orgânica, onde todos são sujeitos evangelizadores,
— o rosto concreto da Igreja em comunidades socioculturais peculiares.

Critérios evangelizadores

1. Conversão permanente à luz da Palavra de Deus. Promover a leitura orante da Palavra de Deus e abrir-se com docilidade à ação do Espírito para que sustente um processo de conversão missionária das pessoas e das comunidades, em seus corações, mentalidades, critérios, atitudes, comportamentos, linguagens, práticas, métodos, planos e estruturas.

2. Comunhão fraterna. Intensificar a vivência da Igreja diocesana e paroquial como uma "casa e escola de comunhão", que se manifesta:

— na formação e na vida das pequenas comunidades,
— no crescimento de novas qualidades para a acolhida, o serviço e a alegria,
— na opção preferencial pelos pobres.

3. Participação dos leigos. Detonar a participação de todos os batizados, especialmente dos leigos e leigas —também da vida consagrada— na comunhão e no treinamento de discipulado,

— respeitando os direitos de todos os batizados,
— promovendo ministérios diversos a serviço da missão,
— ajudando a superar o clericalismo na vida diocesana e paroquial.

4. Pastoral orgânica. Estabelecer critérios comuns para animar uma pastoral orgânica diocesana radicalmente missionária que:

— promova e expresse a corresponsabilidade, a colegialidade e a solidariedade,
— fomente uma missão centrífuga (ir para) e uma reunião centrípeta (convocar a),
— sustente uma pastoral dos vínculos e os processos.

5. Itinerário de pastoral kerigmática. Converter-se numa pastoral kerigmática que vive no encontro com Cristo pelo Kerígma e segue a pedagogia de Jesus em Emaús para aproximar-se aos afastados, caminhar com eles, perguntar-lhes, escutá-los, acompanhá-los, e construir uma comunidade de amor que atraia para o Ressuscitado.

6. Itinerário de conversão formativa. Converter-se a um itinerário de formação que parta do encontro com Jesus Cristo e conduza a uma conversão pessoal permanente, para fornecer uma apaixonada conversão pastoral que ajude a atingir e manter estruturas pastorais ao serviço do discipulado. É necessário que o fio condutor seja o kerigma e sua meta habitual a Eucaristia.

7. Comunidade missionária de comunidades missionárias. Converter a paróquia numa comunidade missionária de comunidades missionárias inseridas nas famílias e nos povoados por meio de processos contínuos de discernimento, planejamento, descentralização e articulação pastoral.

8. Comunidades ao serviço do Reino da Vida. Converter-se a uma missão que sirva ao crescimento do Reino da Vida plena em Cristo através de um processo de iniciação cristã que forme pessoas livres e fraternas, e comunidades que transformem as realidades de nosso povo.

9. Novos espaços da missão no mundo latino-americano atual. Intensificar a presença diocesana e paroquial nos novos areópagos do mundo de hoje, especialmente no âmbito da cultura urbana, para aproximar-nos dos que não conhecem a Cristo, atrair os que estão longe da Igreja, e fortalecer os que permanecem na Igreja porém fraquejam em sua fé.

III. CRITÉRIOS DE RENOVAÇÃO

O termo "critérios de renovação" indica sugestões práticas que podem servir como um impulso para a renovação missionária da Igreja local e da paróquia. Estas propostas têm como base e marco de referência o fato de que «o desafio fundamental da Igreja é ser capaz de "promover e formar discípulos missionários, que respondam à vocação recebida" (cf. DA 14), isto é, formar cristãos convertidos, convictos e comprometidos. Agora bem, a autêntica conversão só poderá dar-se através de um encontro pessoal com Cristo» (cf. DA 12) e da experiência comunitária; enquanto a convicção virá da experiência pessoal do encontro com Cristo, fortalecida pela formação. Da conversão e da convicção surgirá o compromisso, como uma conseqüência. Portanto, um critério fundamental de discernimento para descobrir a autenticidade da praxe pastoral e as estruturas eclesiais é a capacidade para contribuir de maneira eficaz na promoção e formação de discípulos missionários. As seguintes propostas feitas aqui querem ser um estímulo para a imaginação criativa.

1. É necessário redescobrir o sentido e a necessidade das estruturas. Não tem que absolutiza-las e nem menosprezá-las, senão precisar o que se entende por estruturas e quais são as estruturas eclesiais que precisam ser transformadas. No âmbito eclesial, a função primordial das estruturas é facilitar que flua a vida do Espírito e permeie a vida das pessoas e das comunidades; porém também para garantir a comunhão, a participação e a missão de todos. As estruturas são médios para a comunicação, o diálogo, o consenso, a corresponsabilidade. Devem se caracterizar por sua flexibilidade, funcionalidade e dinamicidade: não é qualquer estrutura que garante a uma renovação espiritual nem a fecundidade missionária. Isto implica também revisar a fundo o exercício da autoridade, assim como repensar a natureza hierárquica da Igreja no atual contexto, e sua função de ser garante da unidade e da missão.

2. É absolutamente necessária uma inclusão dos leigos, homens e mulheres, nas estruturas da Igreja. Pois «a renovação da Igreja na América não será possível sem a presença ativa dos leigos» (EA 44). Isto implica que se dê mais espaço de participação aos leigos e a suas peculiares carismas seculares em todo o processo de planejamento pastoral: análise, discernimento, programação, execução e avaliação.

3. É hora de conhecer e pôr em ato algumas tipologias da paróquia ou instâncias afins, sugeridas no Código de Direito Canônico. Entre elas, a paróquia "in solidum", a paróquia pessoal ou ambiental, a quase paróquia, a reitoria, a capelania. Isto permitiria uma melhor organização e atenção pastoral a grupos humanos em contextos específicos.

4. Propiciar o encontro pessoal com Cristo e a conversão dos cristãos mais afastados como uma prio- ridade pastoral absoluta. Isto implica institucionalizar o kerigma e empregar os métodos e as estruturas que sejam mais eficazes e flexíveis diante das novas e diferentes circunstâncias.

5. Assegurar a experiência comunitária de cada batizado. Isto implica a exigência de resgatar e impulsionar com grande força e criatividade a criação de CEBs ou de Pequenas Comunidades Eclesiais, que sejam autênticos espaços da experiência de Deus, de discipulado e de missionariedade. É necessárioo que os batizados «se sintam e sejam realmente discípulos e missionários de Jesus Cristo em comunhão» (DA 172).

6. Desenhar e levar à cabo itinerários de formação integral, sistemática, processual e permanente, em todos os níveis da Igreja. Eles devem garantir a iniciação ou re-iniciação cristã através da catequese; o amadurecimento da fé em cada batizado; com uma adequada capacitação para viver sua vocação específica e exercer seus carismas na Igreja e no mundo. Isso pode ser feito através de Institutos educacionais católicos já presentes ou estabelecendo novos centros de formação básica e diversificada nos diversos níveis da Igreja, sobretudo no paroquial ou diocesano. Os centros de formação cristã (formação básica), as escolas paroquiais de formação para leigos e os institutos diocesanos para a formação bíblica, teológica e pastoral devem ser apoiados com os recursos necessários, tanto humanos como pedagógicos, materiais e econômicos.

7. Impulsionar o compromisso pastoral e missionário. Isto implica revisa e reforçar os âmbitos de participação e de corresponsabilidade que favoreçam a participação integral e efetiva de todos os batizados; assim como o fomento de uma adequada «espiritualidade de comunhão missionária» (cf. DA 203 e 284). Neste campo é extremamente urgente que o sacerdote diocesano e os que estão no seu processo de formação inicial para o sacerdócio entendam e assumam a dimensão missionária como parte constitutiva da sua identidade.

IV. PROPOSTA METODOLÓGICA E RECOMENDAÇÕES

Proposta metodológica

Para aprofundar os conteúdos do presente documento a partir do contexto de cada Igreja particular e paróquia, sugerimos gerar espaços de reflexão a partir destas questões:

1. O que queremos dizer por estruturas eclesiais e quais são as estruturas básicas?

2. Que elementos caducos existem na paróquia, como estrutura eclesial básica?

3. Das estruturas existentes a nível paroquial, quais devem ser resgatadas e quais ajustamentos deveriam ser feitos nelas para que funcionem melhor?

4. Que dinamismos básicos (entenda-se forças propulsoras) poderiam fortalecer os processos de renovação missionária das paróquias e dioceses?

5. Que estruturas novas precisariam ser criadas para impulsionar a dita renovação?

Recomendações

Para o CELAM: que continue a criar espaços para partilhar experiências, reflectir e acompanhar este processo já iniciado de renovação missionária das dioceses e paróquias. Que o ITEPAL fortaleça suas propostas neste campo específico para seguir configurando criativamente «o rosto latinoamericano e caribenho de nossa Igreja« (DA 100h).

Para as Conferências Episcopais: que seja promovido a nível nacional a reflexão e a busca da renovação missionária das paróquias e das dioceses. Em particular, que se tornaram conhecidos e compartilhados entre os bispos e dioceses aquelas experiências positivas que possam servir de referência, exemplo e motivação.

Para as Igrejas particulares: Que se lhe dê uma maior importância à questão da vida paroquial, procurando mecanismos que ajudem eficazmente a sua renovação missionária. Que se impulsione e canalize a conversão pastoral dos membros e estruturas das paróquias.

Para os Centros de Formação: Que nos currículos das Faculdades de Teologia, Institutos teológicos, seminários e casas de formação sacerdotal incluem um curso sobre "Teologia e pastoral da paróquia" na chave de Aparecida.

CONCLUSÃO

Este documento destina-se, modestamente, ser um estímulo para a reflexão e busca criativa de meios para ajudar a alcançar uma verdadeira renovação missionária das dioceses e paróquias em América Latina e o Caribe, para fazer realidade a proposta de Aparecida. Só uma Igreja em permanente estado de conversão e de renovação pode ser uma comunidade em estado permanente de missão.

Este documento se oferece instar manuscripti para sua divulgação. É uma cópia de trabalho para uso interno de O Movimento da Palavra de Deus, e foi depurada dentro do possível de erros de tipeo ou tradução.