Se Deus não lhes pede a todas as famílias que se transladem a outro país é porque já os pôs em seu lugar de missão, em onde trabalhar pelo Reino e dar testemunho

Nossa vida, desperta fome de Deus nos demais?










Uma relação nova e comunitária entre famílias será um poderoso testemunho do amor de Deus em ação entre nós

Cristo Vive Aleluia! N° 105
 

Famílias evangelizando

Todos os casais de nossa comunidade estávamos impactados pelo testemunho lido naquela reunião. Em certa revista, uma nota contava vários casos de famílias missionárias, que deixavam seu próprio país para ir a misionar a outras terras. Um casal italiano em Centroamérica, um médico com sua esposa e filhos misionando em África. Aquilo foi muito forte por todo o tema do desapego e pela entrega que implicava. Mas não era menos forte o final da nota: se Deus não lhes pede a todas as famílias que se transladem a outro país é porque já os pôs em seu lugar de missão, em onde trabalhar pelo Reino e dar testemunho.

Dimensão familiar do testemunho

Isto nos punha numa dimensão nova de não "achancharnos", de evangelizar em nossos ambientes… de fazer-lhe um espaço real ao testemunho em nossa vida familiar.

Toda a Igreja tem a missão de Anunciar e Testemunhar, e as famílias não são uma exceção a este chamado. Mas… como fazê-lo?

Não há um método, uma receita, já que cada situação concreta tem suas particularidades. Cada família tem que fazer seu próprio caminho, ainda que também é verdadeiro que algumas pistas ou sinais podem ajudar-nos.

Em primeiro lugar, e como básica da família, a busca da vontade de Deus. Esta "disposição" é o que pode fazer que Deus seja sempre o centro, continuamente e apesar dos momentos difíceis (que nunca faltam). Ter essa "disposição" vai levar-nos as vezes a viver situações que não imaginávamos, nos fará em mais de um momento ser testemunhas, porque o centro não mudou. Mas se as "preocupações da vida" afogam a semente do Evangelho não nos estranhemos de que os frutos do testemunho brilhem por sua ausência.

Criando pontes e laços

Conquanto a mensagem do Evangelho tem eficácia por si mesmo, também é verdadeiro que deve dar-se certa "comunhão" entre o que anuncia e o que recebe a mensagem. A isto nos referimos com criar pontes ou laços.

Isto é, que uma família que nos conheça, ainda que seja um pouco, por ter compartilhado juntos alguns momentos, ou por ter alguns interesses em comum, estarão mais abertos para receber nosso testemunho. Quase por regra geral, a gente desconfia das pessoas que não conhece, e o testemunho é considerado como pouco credível se não há antes uma ponte de comunhão entre as pessoas. O fato de criar laços é já de por sim evangelizador, vai com as atitudes do amor que nos faz tender pontes aos demais. A isto nos referimos com criar pontes ou laços.

«Luiz e sua esposa têm 2 filhos. Faz vários anos que sutilmente os convidamos a alguma reunião de oração ou algum retiro mas nunca puderam vir. No entanto sempre tratamos de cultivar nosso vínculo e relação com eles. Faz pouco a situação econômica em casa deles se pôs muito difícil. Pusemo-nos em campanha para ajudá-los em sua busca de emprego, perguntando a conhecidos fazendo alguns telefonemas… Também sentimos que nossa preocupação por eles tinha que ser mais concreta e decidimos do que de nossas tradicionais compras no supermercado devíamos compartilhar um pouco de o comprado com eles, ainda que isto significasse para nós… "ajuste" extra neste mês. O dia que lhe levamos os alimentos nos perguntaram por que o fazíamos. Contestamos-lhes que queríamos pôr em prática tudo o que dizemos e cremos sobre o compartilhar e o amor. Aos poucos dias nos chamam pára perguntamos se podiam vir ao retiro de Páscoa conosco, é que esta vez quase nem os convidamos! Este ano pela primeira vez fizeram sua Páscoa em família».

Fazer ponte com outras famílias é conhecer suas necessidades, suas preocupações, e amá-los ali com fatos concretos. Testemunhar com a vida e não só de palavra.

Acordar fome de Deus

Não é que as famílias cristãs devam ser um tanto esquisitas ou um pouco desubicadas; no entanto, sem deixar de ser gente comum e corrente, há nestas famílias "algo" que questiona seu meio. Este algo, difícil de definir, deixa-se ver nos pequenos detalhes da vida cotidiana. Uma mamãe nos comentava que seu filho de 6 anos tinha voltado a sua casa perguntando por que nós não rezamos antes de comer como na casa de David? Por suposto este tipo de coisas vão levando a conversas mais profundas das que geralmente se têm ao esperar aos garotos sair da escola.

«Paulo e Marcela faz pouco se mudaram a uma cidade do interior e estão dedicando muito tempo e energia no trabalho pelo Reino… As vezes a coisa se complica um pouco pelo tema trabalhista. Paulo é engenheiro e tem um cargo de responsabilidade numa grande empresa da zona o que faz de seu horário de trabalho algo elástico e imprevisível. Ah, ademais têm cinco filhos… Paulo conta que não pode deixar de pôr primeiro o Reino antes que nada e no entanto lhe vai muito bem em seu trabalho. Recentemente seu chefe o chamou para perguntar-lhe "em que andava", porque conquanto não tinha nenhuma queixa em sua contra, ao invés, também se notava que "em algo" andava. Então Paulo lhe conta sobre a evangelização, os grupos, os retiros com jovens… E seu chefe lhe pergunta: mas alguém te paga por isto? Ao terminar a conversa se despede dizendo: Realmente não te entendo… mas… poderias convidar a meu filho a um desses encontros?»

Nossa vida, desperta fome de Deus nos demais?

Nossa forma de viver, questiona a alguém?

Famílias em comunidade

A relação comunitária entre famílias pode ser um testemunho para muitos, no meio deste mundo individualista e competitivo de hoje.

Gestos de compartilhar os bens, gestos de ajuda mútua ante as necessidades quotidianas, são gestos que cada vez estranham mais e questionam a nosso médio ambiente.

Por isso há que estar atencioso a que a relação com outras famílias de nossa comunidade não seja "naturalizada", isto é não se faça um formalismo mais, uma "relação social" mais. Uma relação nova e comunitária entre famílias será um poderoso testemunho do amor de Deus em ação entre nós. Assim poderemos dizer com Jesus "vingam e verão". A mais está dizer, só a presença de Deus entre nós pode dar-nos esta relação nova e que o centro da vida de uma comunidade assim está na Palavra e a oração.

Construir a porção de Igreja que por si só é uma família, requer muita dedicação, mas não se contradiz com a construção do Reino a partir de um serviço à comunidade e à Igreja. Ao invés, as crianças recebem o testemunho de ser parte de um povo "em movimento", de um Novo Reino que nós também, desde nosso lugar de família, estamos construindo.

Este serviço pode ser em casal ou individual, mas em todos os casos é a família a que está servindo.

Ao igual que nossas contribuições financeiras ou dízimos, que são para sustentar a Obra de Deus, também a contribuição de nosso tempo e talentos servem de sustentação à obra do Senhor. Quem está no comando de sua família entende melhor, a partir da própria experiência, o que é "sustentar" ou "tomar a cargo" da comunidade onde Deus reconhece um coração sincero.

O Senhor ama ao quem dá com alegria, e se nosso serviço é desde uma verdadeira entrega e não do "deve ser", será um testemunho para aqueles que nos conhecem. Mas se a alegria se torna num ônus demasiado pesada (ufa, tenho que ir a uma reunião), que recebem de mim os demais? Por outra parte Jesus foi quem disse: "Meu jugo é suave e meu ônus leviano" não?

Os jovens de nossas comunidades precisam do testemunho de famílias construtoras do Reino. São as famílias de amanhã, que se não vêem em nós uma maneira diferente de ser família, terminarão acoplando-se à corrente destes tempos em onde os homens preferem fazer sem os planos de Deus.

Que testemunho de família daremos? Famílias dobradas em si mesmas? Famílias só preocupadas pela situação econômica? Não, nossas famílias são das outras.

Jesus é a Esperança que este mundo desconhece

Adriana Bourgeois e Daniel Poli
traduzido de Cristo Vive Aleluia!
Nº 105, p. 12 (1996)

© O Movimento da Palavra de Deus, uma comunidade pastoral e discipular católica. Este documento foi inicialmente publicado por sua Editora da Palavra de Deus e pode reproduzir-se a condição de mencionar sua procedência.